quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O Natal de Antigamente

 Antes de ler o texto abaixo, um esclarescimento:

No meio das famílias alemãs daqui do sul do Brasil, a figura do papai noel era representada pelo Filhinho de Deus, uma criança adorável, que da altura dos seus 10 anos de idade, montada em seu burrinho distribuía presentes e guloseimas nas noites de Natal.

O Filhinho de Deus

Assim que havia passado o São Nicolau, vinha cada vez mais forte à lembrança das criança o Natal. Desde antigamente sempre se ouvia falar que aqueles que se comportavam bem, ganhariam os mais belos enfeitados e floridos doces. E isto tudo sempre era feito às escondidas.
Sobre a pintura dos doces, a mãe e a tia olhavam diversas vezes para o céu. Elas diziam então, que quando ao anoitecer o sol se mostrasse vermelho ou laranja defronte ao céu azul ao se por, era assim porque O Filhinho de Deus estava pintando os doces, para então colocar em nossos pratos na noite de Natal, exatamente no mesmo lugar da mesa onde se sentava para se alimentar.
Mas para isto acontecer a gente tinha que se comportar bem, bem dizendo, comportar muito bem. Tinha-se que realizar todas as tarefas, dar pequenas caminhadas sem reclamar, recolher gravetos para acender o fogão à lenha e ajudar a limpar o quarto da vovó, porque se não, o prato de sopa da gente podia ficar vazio. A gente ainda tinha a maior esperança de que no meio dos doces enfeitados podiam se encontrar deitadas certas bonequinhas de açúcar embaladas em papel celofane colorido.
Quando a roupa estava puindo, então tinha junto ao prato um pedaço de tecido de tricoline, para depois, deste pedaço de fazenda ganhar confeccionada uma bela camisa riscada, para ir passear ou para ir à missa. O tecido para o uniforme escolar, a camisinha listrada de azul e a calça cor de caqui viriam somente junto na Páscoa.
Mas, daqueles tempos, me lembro da historinha do Filhinho de Deus e seu peculiar burrinho.
Sempre se dizia que quem distribuía os presentinhos na noite de Natal era O Filhinho de Deus com seu burro e que ele tinha muito trabalho. E, porque era assim, o burrinho tinha que ser bem alimentado para suportar todo este caminhar.
Então, as crianças de todas as famílias deixavam assim um cantinho de pasto pronto. Conosco em casa não era diferente. Nós crianças, meninos e meninas, disputávamos entre nós e brigávamos para deixar tudo no maior capricho. Cada criança queria fazer o máximo para que o cantinho do pasto fosse o mais bonito da vila. Então, se preparava um pequeno caminho, limpava, até o parreiral. Lá embaixo se preparava um círculo pequeno com palha de milho.
O orgulho era grande porque sabíamos que enquanto O Filhinho de Deus enchia nossos pratos com todos os tipos de guloseimas, o burrinho ficava la fora parado dentro do círculo de pasto comendo a palha de milho para se recuperar.
Se isto tivesse acontecido ou não com a comilança, para nós era indiferente. O mais importante era que de manhã, quando levantávamos, os pratos estivessem cheios. Então nós íamos com angústia até a mesa, lá onde os pratos estavam no lugar de cada um e tudo estava coberto com uma grande toalha de mesa. Quão grande era nossa alegria quando, ao tirarmos a toalha víamos os pratos cheios de balas, chocolates, doces enfeitados, pirulitos e bonequinhas de açúcar embaladas
em papel celofane colorido. E, ao lado, ainda um pedaço de tecido para confecção de uma camisinha nova. Nós então pulávamos e gritávamos de tanta alegria.
Após tudo metodicamente analisado, nós todos corríamos para lá fora embaixo do parreiral para confirmarmos que realmente havia sido O Filhinho de Deus quem havia posto estas coisas nos pratos. Então, se constatava que o pasto havia sido bastante bagunçado e um pouco comido. Quando se olhava com cuidado para o chão, podia se ver estampadas marcas de ferraduras. Isto com certeza era uma prova do burrinho do Filhinho de Deus que ali havia se alimentado.
A alegria entre as crianças era tão grande que ninguém sabia ao certo dizer o que acontecera e como tinha sido possível que O Filhinho de Deus estivera em nossa casa. Os pais, tias, tios e avós então se admiravam e nos enchiam de brio por termos sido tão comportados a ponto de ter a honra de merecermos a sua visita. Mas, porque os presentinhos eram ralos e pobres, os pais nos instigavam dizendo que isto era porque ainda não fôramos comportados o suficiente durante o ano.
Em nossas cabecinhas então nos propúnhamos procurar ser as melhores crianças durante o próximo ano par vermos se no próximo Natal os pacotinhos seriam um pouco maiores.




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