domingo, 29 de setembro de 2013

Quatro dias sem Você



Quatro dias viúvo.
O que pensar, o que sentir?
Nada além de um vazio sem tamanho. Nada além de um até logo que não volta, que será eternamente infinito. Nada além de um amor incondicional, eterno, que se tornou numa separação sem traição. O destino separou. Nada além de uma jura de amor eterna que foi muito bom enquanto durou.
Quatro dias viúvo.
Só sobraram detalhes. Tão pequenos, mas marcantes. Gavetas cheias de roupas, todas guardadas com tanto esmero como se nunca fossem ser mexidas, perfumes pela metade e que num aperto em seu spray revivenciam uma presença que não mais existe. Tudo organizado. Em cada detalhe. Gavetas com escovas, maquiagens, higiene, gavetas que jamais abri e que agora descobri uma vida cheia de muitos cuidados e esmeros, que a vida me levou. São tantas coisas. Um mundo feminino onde eu, ser masculino não imaginava que fosse tudo isto fazer parte do processo para agigantar a beleza que ela exibia todos os dias, ao amanhecer, ao permanecer horas em seu mundo, para se apresentar primeiro a mim, depois ao mundo.
Quatro dias viúvo.
Só sobraram suas marcas. Uma a uma, como um mapa do tesouro, indicando o eterno cuidado que sempre teve para conosco. Anotações detalhadas de continhas a pagar, anotações de telefones que para ela eram importantes, anotações de receitinhas ainda por fazer, de amigos para reunir, de encontros para realizar, de coisas para cumprir antes do próximo passo que nunca mais vai existir.
Quatro dias viúvo.
Me atrevo a mexer em seu celular. Mensagens otimistas para os procedimentos a que se submeteu, mensagens de solidariedade de gente que realmente ela amou e a maldita OI mandando ofertas de pacotes de merda enquanto ela estava sendo velada. Mexendo em seu tablet, nada de especial a revelar. Só fotos recentes e muitas orações em seu bloco de notas. Orações otimistas empurrando seu estado emocional pra cima. Orações que tantas vezes ela repetiu enquanto tentava se recuperar no leito, pois eu via.
Quatro dias viúvo.
Desfaço a mala do hospital que nem chegou a ser retirada do carro, mas que ela fez questão de preparar para levar, mesmo sem ser chamada para internar. Sua perfecção era assim. Não tinha como contestar. Havia a iminência de internar, mala pronta, bora, enfrentar. Assim era ela. Tiro todas as roupas e objetos. Nossa. Tem de tudo. Toalhas, pijamas, roupa íntima, roupa pro frio, para clima ameno, tudo pensadinho. Quando estou pela metade da liberação da mala, sinto algo duro numa repartição com fecho. Vou abrir. Encontro uma barra de cereal e um pacotinho de balinhas de hortelã. Nossa, pensei, até nisto ela pensou. Travei. Tá lá a mala para tirar o resto na hora em que achar melhor.
Quatro dias viúvo.
me sinto em paz, em primeiro lugar. Porque ela foi em paz, não ficou sabendo que partiu. Em segundo lugar, tivemos uma vida de emoções verdadeiras. Vivemos alegrias, conquistas, sonhos. tivemos dois filhos maravilhosos que hoje estão do meu lado, ela viajou, viveu, e completou seu lado feminino de compras e uma vida sem despezas. Ela partiu sabendo que nós tínhamos condições de segurara a barra. Senão, lutaria mais tempo, seguraria mais. Retomo aqui, o que falei pra ela na hora da derradeira despedida: "Amor, obrigado por tudo! Valeu!"

2 comentários:

  1. "A vida me ensinou a dizer adeus às pessoas que amo, sem tirá-las do meu coração."

    (Charles Chaplin)

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