sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Hora da Faxina - Morro Peixoto



Morro Peixoto


   Tem tantas histórias interessantes e por vezes engraçadas que aconteceram alguns anos atrás, que quando conto, tem gente que acha que é invenção minha. Só que a tecnologia, o mundo, a conexão, tudo evoluiu tão rapidamente que as vezes um fato dos anos setenta parece não ter acontecido. A distância entre o mundo de antes dos computadores e da internet para os dias de hoje é tão grande, que em evolução seguramente representa um século ou mais.
   E dentre estas histórias o morro Peixoto se destaca. Por que?
   Bom, primeiro vamos localizá-lo. Ele fica exatamente na metade do caminho entre São Sebastião do Caí e Harmonia. A altura dele deve ser em torno de cem metros. E como antigamente os caminhos que ligavam os povoados eram inicialmente as trilhas dos índios, depois dos colonizadores e seus cavalos, muitas vezes não existia lógica em seu traçado. Passava por onde dava menos trabalho abrir a picada.E o morro Peixoto não fugiu à regra. No sentido Caí-Harmonia tinha uma subida muito íngreme para chegar no platô no topo do morro. Eu diria que era algo em torno de 35 a 40 graus. Passava no meio do mato e era de chão batido.
  Aqueles ônibus da época, primeiro tinham o sobrenome do proprietário de Tupandi (não lembro mais o nome), depois foi comprado pela Montenegro. Eram queimadores de óleo diesel, de potência ineficiente, subiam gemendo aquele perau. Eu fiz esta viagem diversas vezes e em muitas ocasiões quando chegava na metade da lomba o ônibus agonizava andando a passos lerdos para vencer a subida.  Então quando estava muito lotado, o motorista parava antes da subida e fazia todas as pessoas que estavam de pé no corredor descer e subir a lomba a pé porque senão não venceria esta subida. E quando a estrada havia sido patrolada todos os passageiros eram obrigados a descer e subir a lomba a pé. 
   E como ficava nos dias de chuva? Bom, era um caos. Geralmente o motorista tentava vencer o obstáculo com os passageiros no ônibus, já que subir a pé os deixaria molhados e enlameados. Mas por três vezes em que eu estava no ônibus com este tipo de tempo, ele chegava à metade da lomba e começava a patinar perigosamente ficando quase transversal à subida. Então o motorista pedia voluntários para descer e ajudar a empurrar o ônibus na subida barrenta. Nas três vezes eu ajudei a empurrar e cheguei no topo do morro pesando o dobro de tanto barro que o ônibus havia jogado em mim.
   Numa destas ocasiões tinha uma velhinha no ônibus que sentava ao meu lado. Quando voltei todo embarrado e quis sentar ela me barrou dizendo: 
   - Espera! Não senta! Se quiser sentar do meu lado precisa primeiro se limpar de todo este lodo. Toma aqui o meu lenço e se limpa.
   Então ela me alcançou um lenço para que eu tirasse todo aquele lamaçal do corpo pra poder sentar ao seu lado. Imagina , um lenço! Fiquei em pé do lado do meu banco e não sentei mais.
   

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