sexta-feira, 11 de março de 2016

Hora da Faxina: História de Músicos




 História de Músicos

    Talvez muitos não saibam, mas fui músico durante quase vinte anos, tocando primeiro em conjunto, depois em banda de baile. E esta atividade é muito gratificante. Por diversos motivos. Dentre tantos, sempre se conhece novos lugares que talvez de outra forma nunca conheceria, se conhece pessoas maravilhosas que começam a fazer parte do nosso rol de amizades, se come culinárias de outros costumes com suas misturas e temperos característicos, se vivem momentos que de outra forma nunca viveria.
   Por outro lado, ser músico também é estafante. Parece fácil, lindo e maravilhoso ser o centro de uma festa, de um baile, de um evento. Mas para se chegar lá, muitas horas de ensaio, muita dedicação e muito empenho são necessários para se chegar a um repertório redondinho, onde todas as músicas saem afinadas e no ritmo. Além do mais, o desgaste do deslocamento, testes de instrumento, aparelhagem, madrugadas inteiras sem dormir, fim-de-semanas comprometidos com a profissão e tantas mais coisas, vão se avolumando ao ponto de um dia se dizer: "Basta! Não quero mais!"
   Comigo não foi diferente. Chegou um momento, onde pouco antes de meu segundo filho nascer, decidi que não tocaria mais. Somente em festinhas familiares, encontros de amigos, estas coisas. E foi o que fiz!
   Ser músico também é protagonizar histórias muito engraçadas que vão se situar em nossa mente para o resto da vida. No tempo em que toquei na banda, muitas coisas aconteceram que nos deixaram estas histórias engraçadas para contar. 
   Uma delas aconteceu na capital de nosso estado, na Sociedade Ginástica de Porto Alegre (SOGIPA) num baile de chopp promovido pela Comenda do Lobo. Aliás, tocamos durante vários anos o baile de chopp desta entidade de simpatizantes dos costumes alemães. 
   Chegamos no meio da tarde na sociedade, por sinal muito chique. Descarregamos os equipamentos (na época não existia equipe técnica de banda), começamos a instalar e testar tudo para extrair o melhor som. E este processo era demorado, levava em torno de três a quatro horas até ficar pronto. Quando ficamos prontos com a montagem do equipamento, o salão já estava bastante lotado de gente. Homens de ternos finos e mulheres de longos reluzentes, um glamour que raras vezes vi em outros eventos. 
   Nesta sociedade, as mesas reservadas aos convidados ficam em patamares diferentes, algo como escadões, para que os de trás consigam enxergar toda a pista de danças que fica na parte mais baixa e o palco dos músicos que fica acima da pista. Então, todas as pessoas presentes conseguiam ver o que estávamos fazendo.
   Tudo testado, pegamos nossas mochilas com o uniforme e seguimos para o vestiário para trocar de roupa que fica no lado oposto do palco, tendo que atravessar toda a pista, que naquela hora estava vazia. Um dos nossos músicos, o trombonista, tinha uma mala daquelas feitas de papelão grosso revestido de couro, antiga, do tempo do epa. Só a mala já chamava a atenção pela relíquia que era. E ele a pegou em seu pegador e seguiu conosco para o vestiário. 
   Quando chegou exatamente no meio da pista, a tramela que fechava a mala dele rompeu, abrindo, e esparramando toda a roupa dele no meio da pista. Inclusive tinha junto uma cueca branca, encardida de velha, sapatos surrados, e o uniforme dele todo amarrotado. Todo mundo ficou olhando para ele. Nós seguimos deixando ele sozinho, na sinuca. E ele não teve dúvida: atirou a mala no chão, se acocorou e pacienciosamente juntou todas as peças do uniforme enfiando de qualquer jeito tudo dentro. Depois fechou aquela mala velha e a pressionou embaixo do braço pra não abrir de novo e saiu assobiando como se nada tivesse acontecido.

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Abaixo um dos vídeos mais inusitados de música onde eu e meus dois filhos acompanhamos o Paulo Klein cantando na festa da RCC com uma afinação dos deuses kkkkkkkkkkkkkkkkk


   

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