terça-feira, 17 de março de 2015

Hora da Faxina: Banho de Serragem



 Banho de Serragem

   Quem já se atirou alguma vez dentro de um monte de serragem como se fosse uma piscina? Acho que dá para contar nos dedos as pessoas que estão lendo esta crônica, e que quando crianças tiveram o privilégio de curtir com uma experiência dessas. Se jogar dentro de um monte de serragem é tão fofo, tão aconchegante, que fica difícil esquecer a experiência. Claro que depois de sair do meio daquele monte de floquinhos de madeira a gente sente todo o corpo pinicando, necessitando de um banho urgente para se livrar de toda a serragem que grudou no corpo. Ainda mais no verão, quando o suor funciona como ímã e cisma em empanar o corpo todo com serragem. Mas é uma paga dada bem gostosa pela experiência fascinante que isto proporciona. Cair dentro de um monte de serragem é como cair dentro de um monte de travesseiros de pena. Esta é a sensação.
   Quando eu era criança e morava em Harmonia, tinha a duas casas da dos meus pais, a serraria dos Calsing. Os filhos do proprietário eram nossos amigos,  viviam em minha casa e nós vivíamos na casa deles, principalmente passávamos o tempo na serraria. Claro, em fins-de-semana quando as máquinas todas estavam desligadas e não ofereciam perigo. Então, nós influenciados pelas séries de TV que passavam na época como Bonanza, Daniel Bone, Rim-Tim-Tim, Lassie e tantos outros, usávamos a serraria como cenário para nossos personagens copiados dos seriados. As toras de lenha, enormes árvores para serem partidas e transformadas em tábuas, eram para nós como vagões de trem, onde ficávamos em cima e imitávamos viagens em alta velocidade no trem.
   Perto daquelas toras então, uma pilha alta, de mais de dois metros, tinha uma caixa de serragem que o Calsing vinha acumulando. Acho que era para vender para os agricultores espalharem em suas roças e as tornarem mais férteis. Mas o fato é que tinha uma caixa enorme de serragem, de uns nove metros quadrados, de uns setenta centímetros, ou um metro de altura, onde eles iam botando a serragem dos cortes de toras e este monte ficava cheio nos fins de semana. Tão alto que emparelhava com a altura das toras de madeira que ficavam a quase dois metros de distância dali. E nós, brincando de trem em movimento, nos jogávamos para tirar o bandido do suposto cavalo, que na imaginação estava acompanhando o trem como nos filmes da época, e voávamos para dentro monte de serragem, gritando eufóricos como se tivéssemos derrubado o bandido do cavalo e rendido ele. 
   Às vezes, alguém se fazia de bandido e brincávamos de luta corporal rolando sobre aquele monte de serragem, espalhando ela para fora da caixa. A brincadeira rolava toda a tarde de domingo, quando finalmente algum adulto da família nos corria de lá porque tínhamos espalhado toda a serragem para fora da caixa com nossas estripulias. Bons tempos!

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