terça-feira, 10 de março de 2015

Hora da Faxina: Penteando o Braço

(Na foto, tomando chimarrão no pátio que separava as casas da praia)



Penteando o Braço

   A gente passa na vida e vai conhecendo pessoas e lugares dos mais variados. É impressionante a quantidade de tipos de pessoas que existem, também lugares. Quando menos se espera ter conhecido algum lugar completamente diferente, a gente se depara com outro que inacreditavelmente muda nossa concepção sobre lugares conhecidos porque é muito mais diferente ainda.
   Assim, uma vez no fim dos anos noventa, conhecemos a enseada de Itapema. Um lugar divino, praia de pescadores, tranquilo, de mar calmo, especial para trazer crianças para férias despreocupantes porque o mar não oferecia perigo. Éramos uma turma grande, três famílias, filhos pequenos, e assim alugamos duas casas num pátio cercado naquela enseada, onde tinham mais duas casas. Todas eram interligadas com calçadas cercadas de vegetação florida, sombra, enfim, um lugar divino, onde deu muito gosto de ficar aqueles dez dias, além da tranquilidade, já que crianças exigem mais atenção. 
   De noite, quando a gente deitava, ouvia lá fora só o chlap, chlap, chlap das marolinhas quebrando no muro que separava o pátio de onde nos encontrávamos da areia branca da praia e do mar. Era maravilhoso adormecer assim, mar a menos de  trinta metros de distância e calmo. De manhã, se quiséssemos fazer algo diferente, era só levantar um pouco mais cedo e ir até a orla e ver os pescadores voltando de sua noitada no mar, com os barcos carregados de peixes, dos mais variados tipos e tamanhos. E todos se ajudavam, tirando a mercadoria dos barcos e encaminhando para a associação de pescadores, onde eram pesados, classificados e pagos para a alegria dos pescadores. Depois, voltar pra casa e tomar o café da manhã olhando o início da jornada de praia pertinho dali, quase junto ao mar, com línguas misturadas entre espanhol e português, já que a praia estava tomada de portenhos.
   Foram férias divinas. Muita comida, um dia fiz cinco quilos de batata frita, jogos, brincadeiras, esculturas na areia, e descontração total. Mas teve ali, um senhor que era casado com a senhora que alugava aquelas casas, que tinha um jeito bem particular de ser. Ele era da aparência de um viking, aquele tipo grandão, ruivo, todo peludo, e com olhar guerreiro. Ele sempre trazia um pente no bolso da camisa e chamava a atenção este detalhe. Até que um dia, quando uns argentinos tinham emporcalhado uma daquelas casas do condomínio que administravam, deixando sujeira para tudo que é lado, fraldas usadas pelos cantos da casa, restos de comida, um nojo de se ver. E o homem ficou nervoso. A esposa dele nos chamou para vermos a cena, e o homem para controlar seu nervosismo, tirou o pente do bolso e começou a pentear os pêlos dos braços com aquele pente que trazia no bolso. 
   Imagina a vontade de rir, tendo que permanecer sério na presença deles, afinal estavam mostrando aquela casa imunda para nós e o ruivo penteando nervosamente os pelos de seus braços.  Imagina a cena!

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