sexta-feira, 24 de abril de 2015

19 Meses sem Bere, Viúvo - O Apelido Vidinha.



19 meses sem Bere, viúvo.

   Realmente, o tempo é o melhor remédio. Pois olhando para trás, o que senti há um ano e sete meses, nos primeiros dias, semanas, após Bere ser levada para outro plano, me fez pensar que jamais voltaria à vida normal. Que jamais teria novamente um dia, uma semana, um mês, onde os momentos de saudade fossem menos intensos do que os momentos de viver, de conquistar, de sorrir, de realizar. A sensação com o passar do tempo migrou de sofrimento de perda, de saudade da ausência desta que foi tudo o que um marido, amigo, confidente e parceiro possa ter, para momentos saudosos. Aqueles que me pegam de surpresa, e tomam conta. Mas, são momentos. E hoje em dia, os considero especiais porque mostram para mim o privilégio que tive de realmente ter podido amar alguém. Amar de verdade, plenamente. É o que tantos buscam uma vida inteira e não encontram. Me sinto privilegiado. E Bere está presente muito mais agora nas lembranças boas, dos momentos especiais que vivemos. Sinto falta dela, claro, mas não é mais algo que impeça de seguir em frente, olhando para o futuro. 
   Falando em lembranças boas, na releitura do livro de Bere que estou fazendo, o texto que conta como surgiu o apelido que nós usávamos: Vidinha.

   O apelido Vidinha

   "Estávamos casados um mês. Era um sábado de tarde. Verão, calor, sol de rachar. Na divisa de nosso terreno com o do vizinho tinha uma cerca de estaquetas, que é formada por ripas de madeira. Tinha umas duas ou três quebradas pelo desgaste do tempo e eu resolvi consertar isso para impedir a passagem dos bichos da vizinhança. Estava eu lá, acocorado, suado de alto a baixo, chapéu largo, pregando uma estaqueta quando Bere chegou com um jarro e um copo e me chamou: 
   - VIDINHA, fiz uma limonada para ti.
   Encheu o copo com aquela bebida geladinha para mim, com cubinhos de gelo caindo junto no copo. Na hora aquela forma de me chamar me deixou desarmado. Fiquei tão impressionado pelo doce chamar de Bere, que fiquei em dúvida sobre o que mais me tocou: se foi porque ela me chamou de 'Vidinha', se foi a atitude dela em me fazer aquele agrado ou se foi a própria limonada. Acho que foi a soma das três coisas. Mas, aquele 'Vidinha' continuou soando em minha memória como se eu tivesse ouvido a mais bela e completa canção de amor de minha vida. Peguei o copo e enquanto comecei a tomar, trouxe Bere para a sombra embaixo de um ingazeiro que tinha ali perto. Tomei aquela limonada em rápidos goles, estava sedento. Bere serviu o segundo copo e o repartimos. Meu olhar para ela foi de uma paixão tão intensa, que não me contive e disse: 
   - Vidinha, Vidinha!!!!! Que maravilha! Nunca mais vou te chamar diferente. Vais ser minha Vidinha daqui pra frente!
   Ela tomou uns goles daquele copo, me alcançou ele pela metade e eu tomei o resto. Ficou só me olhando com seu jeito pós adolescente de menina-mulher, olhar atrevido e realizado, de quem havia selado naquele momento nosso relacionamento para sempre, só por dizer uma palavra. Ela encheu mais um copo, cubinhos de gelo caíram novamente tinindo junto com o suco, e enquanto ela voltou a tomar a limonada eu disse:
    - Nunca na vida ouvi um jeito tão doce de ser chamado. 'Vidinha'. De agora em diante vou te chamar assim: minha Vidinha!
   Ela começou a rir e respondeu:
    - Isto não vale, o apelido é meu. Sou eu quem vou te chamar de Vidinha.
   Eu quis retrucar, mas ela falou antes: 
    - Vamos nós nos chamarmos de Vidinha. Eu deixo. Saiu sem querer, mas eu também gostei muito. Muito mesmo! Soa tão gostoso! Nós somos as vidinhas pulsantes dentro de nossa vida. Vamos manter!
   Daquele dia em diante, nosso tratamento ao nos chamarmos, ao nos referirmos na maioria das vezes foi dizendo Vidinha."

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