quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Hora da Faxina: A Lâmpada



A Lâmpada.

   Já faz uns anos. Mas era algo muito estranho que acontecia. Existia uma lâmpada num poste que ficava quase em frente da minha casa que não durava. Passavam alguns dias e, pronto, a lâmpada não acendia mais. Então, naquela época, avisar o pessoal da prefeitura para vir trocar, até eles virem trocar, decorriam noites intermináveis de escuridão. E Justamente na frente de minha casa.
   Quando o pessoal vinha, trocavam a lâmpada e me mostravam a velha, dizendo em tom de desconformidade:
   - Mais uma vez acertaram ela com uma pedrada ou um tiro certeiro de funda.
   E eu, inconformado sempre retrucava:
   - Mas, por que justamente esta lâmpada na frente da minha casa? Por que não miram na do poste perto da esquina, na frente do terreno baldio?
   O eletricista, com um leve sorriso no canto da boca, dizia:
   - Vai ver que de onde miram, esta é a que fica mais na linha de tiro.
   E dava risada. Eu estava inconformado. Esta já tinha sido a terceira troca daquela lâmpada para aquele ano e ainda nem tínhamos chegado na metade dele. E, como sempre, lâmpada quebrada por algum vândalo. E não podia ser arte de criança porque onde ela ficava era alto, difícil uma criança acertar, mesmo de funda, que na época era o xodó da gurizada. Cada um caminhava com ela pendurada no pescoço feito corrente.
   Agora com a luz refeita na frente de casa, o tempo passou e esqueci aquilo. Passou em torno de um mês, e eis que vi num anoitecer de sábado quando fui pegar o jornal na frente de casa, que a lâmpada novamente estava apagada. Maldisse o vândalo. Pensei: "Que estranho! Ainda ontem de noite esta lâmpada estava funcionando. Então alguém a detonou neste sábado."
   A partir daí, já tinha uma pista. Ao menos esta última lâmpada foi mirada e destruída num sábado.
   No dia seguinte, no domingo, ouvi conversa na vizinhança de que o baile que tinha acontecido naquela noite de sábado tinha resultado em brigas e até tinha terminado antes por causa disto. Ainda pensei: "Tivesse sido ontem o baile, até poderia justificar esta lâmpada quebrada por alguém que voltou do baile mais cedo e não gostou de isto ter acontecido."
   Mais uma vez mandei trocar a lâmpada. O mesmo eletricista da prefeitura chegou já debochando de mim por ter sido vítima mais uma vez deste ato de vandalismo. Eu estava inconformado. Mas ao mesmo tempo tentando achar uma razão para o motivo de sempre acertarem justamente a maldita lâmpada do poste na frente de minha casa.
   Mais um mês e pouco andou. Então, sexta de tarde, no meio da tarde, um carro de som passou na frente de casa enquanto eu estava merendando, anunciando baile para o mesmo salão que da outra vez havia terminado antes por brigas. Ainda pensei: "Quem é o bobalhão que vai lá de novo, só para presenciar brigas, podendo até sair machucado?"
   No outro dia de tardezinha, já escuro, fui novamente pegar o jornal na frente de casa e eis que a maldita lâmpada novamente estava apagada. Não quis crer que isto era verdade! Era a quinta para um pouco mais de meio ano. E novamente no sábado. E novamente com baile para este sábado naquele mesmo salão. Poxa, estava evidente demais que havia uma relação entre a lâmpada quebrada, o sábado e o baile. Mas qual?
   Naquela madrugada de domingo tudo foi esclarecido: meu pátio tinha um murinho de meio metro ou pouco mais que o separava da calçada. Bem na frente de casa tinha um pé de cinamomo de copa frondosa no meio do gramado. E quando aquela lâmpada estava apagada, ficava tão escuro embaixo daquele cinamomo que não se enxergava nada.
   Pois eis que acordei domingo de manhã por volta das cinco horas, era noite ainda, com gemidos. E senti que era perto de casa. Fui a passos leves até a janela da porta da sala, abri de leve e pelo cantinho dela pude ver uma garota que era vizinha não muito distante em altos arretos com um desconhecido, embaixo do cinamomo dentro do meu pátio. Num rompante, abri toda a janela da porta da sala, acendi todas as luzes que estavam à mão, a garota semi-nua assustada ficou sem jeito e o rapaz tapou o rosto. Vazaram do meu pátio como um raio. 
   Daquele dia em diante, nunca mais alguém acertou a lâmpada na frente de casa.

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