quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Pequenas Mentiras, Meias Verdades - Histórias de Mascates 2



Pequenas Mentiras, Meias Verdades:  Histórias de Mascates 2

   As pessoas dos pequenos lugares, nas picadas lá no meio das colônias, antigamente só ficavam sabendo das novidades através dos mascates, os quais geralmente cruzavam por lá uma ou duas vezes por ano. E a passagem deles por lá sempre era aguardada ansiosamente pelos moradores, principalmente mulheres, que se apressavam para ver as novidades.
   Os mascates carregavam de tudo em cima do cavalo. Alguns até tinham um cavalo atrelado ao seu, para poderem carregar mais coisas. De lenços a tecidos finos, de perfumes a cremes ditos milagrosos, de utensílios domésticos a querosene para lamparinas e velas de cera, tudo traziam.
   Eles eram hábeis negociantes e tinham o dom de se desfazer de toda a mercadoria em uma volta feita pelo interior. Sua presença era anunciada de boca em boca. E quando era no fim de semana, até na missa ou no culto era anunciada a passagem destes vendedores pela comunidade. Muitas famílias disputavam a presença do mascate em seu almoço, jantar ou até hospedagem, para então as mulheres terem mais tempo e escolherem com cuidado o tecido do próximo vestido.
   Para os mascates chegarem até Salvador do Sul, que já se situa na serra, eles tinham uma série de dificuldades já que a estrada era íngreme e de subidas pedregosas que entediava os cavalos. Então, estrategicamente, no pé da serra, mais precisamente em Linha Dom Diogo, existia o que hoje se chamaria de hotel restaurante. Mas na realidade era um casarão com meia dúzia de quartos e uma cozinha enorme com uma mesa grande onde umas quinze pessoas podiam sentar e comer.
   O lugar era referência entre todos os mascates porque além de ser um ponto de descanso antes da subida íngreme, também era o lugar onde serviam o melhor feijão que já haviam experimentado. Simplesmente o feijão servido naquela pensão era de comer demais. Tinha um sabor único, inigualável, que agradava muito aos paladares até mais exigentes. Um feijão preparado daquela maneira fazia com que os mascates parassem lá, e antes de descerem dos cavalos perguntarem:
   - Só pernoito aqui se tiver aquele feijão gostoso. 
   Depois da resposta positiva, apeavam do cavalo e ficavam na pensão.
   Mas, qual era o segredo do feijão tão gostoso daquela pensão de Linha Dom Diogo? Todos se perguntavam. Mas ninguém sabia. Até que um dia, uma mascate estava de saída da pensão depois do meio dia, descobriu o segredo. Tinha cavalgado uns dez passos em direção à serra, quando um outro mascate estava vindo lá adiante, na volta da curva, uns duzentos metros distante. O dono da pensão estava mesmo alimentando seus cães, vários cães, quando a sua esposa gritou:
   - Zé, tira de volta o feijão dos cachorros. Não deixa comerem tudo! Está vindo mais um mascate!

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