quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Pequenas Mentiras, Meias Verdades: Histórias de Músicos 7



Histórias de Músicos 7

Não existe nada mais belo no mundo do que ser músico. Aqueles pequenos contratempos que a gente tem como não poder olhar aquele filme na televisão sábado à noite, ou aquele casamento de parente que a gente perde, nada é a grandeza de se tocar um baile.
Quem é músico não tem fim-de-semana e muitas vezes senta para almoçar domingos às duas da tarde.
Ser músico é comer muitas novidades e passar muitas novidades com os colegas que conosco tocam. E também é se esmerar por várias noites para aprender músicas novas. Uma nova música muitas vezes toma até três horas do músico até ele aprender a tocá-la.
Às vezes então acontece que em cada três ou quatro encontros não se aprende a música. Um músico que erra um detalhe, estraga toda a música. Então, ensaiar tudo de novo.
Alguns músicos captam com facilidade uma nova música, então, quando ela já foi ensaiada duas ou três vezes,  já a sabem de cor.
Mas, os lugares que a gente conhece como músico é algo interessante. Falando francamente, se a gente nunca tivesse sido músico, jamais se conheceria estes lugares.
Existem pessoas tão bacanas nestes lugares escondidos, que a gente vê que a natureza semeou este tipo de pessoas por todos os cantos. O mesmo é para as belas garotas que a gente aprende a conhecer lá. Também, sim,  os homens feios.
Entre todos os lugares e todas as pessoas, uma coisa sempre é certa: as pessoas fazem todos os agrados para os músicos. Para eles nada pode faltar: desde a comida até a roupa no banheiro, tudo deve ser ao serviço daqueles que em breve seriam os reis da festa.
Em alguns lugares onde tocamos os garçons achavam que tinham que nos servir muito bem com cerveja ou cachaça, então traziam aos montes, tanto que às vezes alguns se passavam na bebida.
Nós tínhamos uma banda boa. Os mesmos músicos se mantiveram juntos durante oito anos e assim conseguimos uma grande harmonia entre nós, músicos. Os componentes eram pessoas bacanas e a maioria deles eram colonos que no fim-de-semana faziam música.
Mas um, o Guido, nosso pistonista, ele era virado. Melhor dito, era muito virado. Sua qualidade como músico era muito grande. Tanto, que várias músicas ele solava sozinho. 
Sua simplicidade muitas vezes nos deixava ufanos porque ele, um dos melhores músicos, nunca por si só queria se destacar. E ele tocava algumas músicas como se fossem as originais, de tão perfeito que era seu trabalho. Nunca tivera uma aula teórica de música sequer, e quase nem sabia assinar seu nome.
Mas. ma vida, ele era muito virado. Quando ele tinha na sua frente alguma bela garota, ele estragava a música soprando errado, tanto que tudo saía errado. E ele vermelhava de alto a baixo. Assim, ele de vez em quando nos aprontava alguma que parecia inacreditável.
Um dia, tocamos no salão que era a igreja velha em Harmonia. Tudo estava pronto, bem instalado, tínhamos comido muito bem, uniformizados e prontos para começar o baile. O salão estava lotado até o gogó e não tinha mais espaço vago. Subimos no palco, cada um no seu lugar, e exatamente às onze horas o maestro da banda começou a contagem regressiva para começar:
- Um, dois , três, quatro... Respiramos fundo para começar,  então o Guido se virou e gritou para o maestro:
- Espera! Espera! ...Miro, espera um pouquinho!
Miro, o maestro, nos assinalou que  esperássemos e então ele perguntou:
- Ué Guido, o que aconteceu?
Ele respondeu na frente de todo mundo que aguardava pacienciosamente para iniciar a dança:
- Não posso tocar, Miro! Esqueci o bocal do pistom no carro. 
Tivemos que literalmente iniciar o baile sem o Guido, o qual tinha esquecido o bocal do seu pistom no bolso do casaco lá fora dentro do carro.

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