quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Hora da Faxina: Adivinha Quem Está Falando?!?



 Adivinha Quem Está Falando?!?

   Tocou o telefone. Eu fui atender, disse "Oi" e, para minha insatisfação, no outro lado da linha uma voz familiar, mas desconhecida, retrucou:
   - Oi! ...Adivinha quem está falando?!? 
   Já odeio de cara receber este tipo de conversa quando alguém me liga. Mas, mesmo revirando meu pensamento em busca do nome daquela voz familiar, não consegui juntar o timbre a algum nome. Até houveram algumas cogitações, mas receber ligação de uma pessoa a cada dois anos, mesmo que a conheça, não tem como associar a voz ao nome. Mantive o silêncio, afinal, não sabia quem era. E, no outro lado da linha, a pessoa parecendo se divertir com a saia justa que me havia metido, ainda ficou cantarolando em suspense: "La-la-ri-la-la-la." Ia repetindo aquilo de um jeito de tortura tal que me deu vontade de bater o telefone na cara. Afinal, eu estava iniciando o dia de trabalho e não merecia este tipo de comportamento pela pessoa do outro lado da linha, nem que fosse cliente. 
   Eu, com uma vontade infernal de mandar enfiar o telefone naquele lugar, respirei fundo e num tom de sorriso amarelo respondi:
   - Não sei se você sabe, mas telefone de linha ainda não tem câmera onde a gente consiga ver quem está do outro lado da linha. E eu sinceramente não consigo associar sua voz a algum nome. Portanto, seja gentil e diga quem é e qual é o assunto. Então conversaremos.
   Uma risada sarcástica ecoou do outro lado da linha. Feminina, mas maquiavélica. Do tipo: "Ah, agora te tenho em minhas mãos, tá dominado!" Aos poucos meu sangue começou a fervilhar. Eu estava detestando aquela situação e a pessoa do outro lado estava se deliciando com sua forma oculta e desconhecida de me torturar. Senti literalmente minhas vísceras me embrulhando. E a voz continuou sua forma de me dominar, agora chantageando:
   - Sinceramente não pensei que você um dia não fosse mais reconhecer minha voz. ...Não vou dizer que magoei, mas fiquei chateada. Poxa, tem tantas coisas que já vivemos, tantas histórias que aconteceram em nosso meio, nosso meio comum... E agora você me diz que não consegue juntar minha voz a minha pessoa? Será que sou tão pouco importante em sua vida, minha pessoa conta tão pouco, que não tens mais o registro de minha voz em sua mente?
   De irritado meu sentimento foi se transformando em desumano. Poxa, pelo jeito a pessoa era bem próxima a mim, e eu não consegui ligar sua voz a alguém. Estava começando a me punir por tamanha falha. Então eu disse:
   - Desculpe, mas sinceramente, apesar de eu conhecer sua voz, sei que a conheço, mas não consigo associar a uma pessoa. Por favor, diz que é, então vamos conversar.
   Aquela ligação no início da manhã já havia estragado todo meu dia mesmo, agora não faria mal se ficasse conversando durante uma hora. Talvez conseguisse me redimir pela falta de lembrança. Eu estava me sentindo como um verdadeiro idiota ao quadrado. Sim, por duas vias estava sendo o idiota: por deixar me levar com aquela conversa do:"Adivinha quem está falando!" e por outro lado, por ter esquecido do nome da pessoa com aquela voz.
   Nisso, apesar da pouca troca de palavras, já havia passado um bom tempo ao telefone. Eu não sabia o que fazer, se desligava ou se continuaria, porque do outro lado da linha a voz calou esperando eu dizer um nome mágico tirado do meu subconsciente que fizesse sair aquela imagem da 'cartola mágica' e me fosse apresentada a pessoa da ligação telefônica.
   Depois de um intervalo, a voz do outro lado falou:
   - Bom, já que não reconhece minha voz, vou dizer quem eu sou...
   Respirei aliviado. E em suspense esperei a pessoa se declarar. Foi quando a voz do outro lado se identificou:
   - Sou tua sobrinha tio!!!! A Gabi! Estou fazendo um teste para meu curso de comunicação e a proposta era de ligar para uma pessoa conhecida e mantê-la cinco minutos no telefone sem se identificar e sem a pessoa desligar o telefone. E eu passei! Uhuuul! Muito obrigada! Ah, e desculpe, usei uma esponja de louça no bocal do telefone para mascarar minha voz.
   Eu só consegui dizer um "Parabéns" desmotivado, pensando só em como havia caído neste trote sem identificar aquela voz inconfundível de minha sobrinha. Maldita esponja!

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