sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Hora da Faxina: Sons



 Sons

   Tem muitos sons que nos voltam à memória quando imaginamos cenas ou acontecimentos que nos acompanharam durante a vida. Geralmente os sons que mais marcaram justamente são os que de certa forma deram alguma espécie de prazer enquanto aconteciam. Puxando para o tempo de criança, ainda consigo ouvir o perfeito tinir do toque entre as bolinhas de gude nos jogos acirrados de fim de semana. E o tinir de uma nicada num monte de bolinhas dentro do triângulo, ou do círculo, remete à memória como uma sinfonia das mais belas. Porque era colheita na certa de muitos resultados, muitas bolinhas de gude, onde o ganhador levava todas as bolinhas que com um único toque de sua mestra tirava de dentro do desenho riscado no chão. Também participavam as castanhas nestas jogadas, mas que precisava duas para substituir uma bolinha. E o som da bolinha batendo na castanha também é inesquecível, principalmente quando a sementona dentro dela se soltava do invólucro duro e tinha uma parte oca que então aumentava o ruído do contato da bolinha.
   Em tempos onde não se tinha as bolinhas de gude para jogar, se improvisava com carteiras de cigarro descartadas, as quais se abria com cuidado porque não podiam ter rasgos, se dobrava de uma forma especial, onde ficava em V e assim ficava de pé no círculo, para se tirar de lá com pedras chatas, tipo biscoito. Aqui também, o som de uma limpada de carteiras com uma única jogada a partir da linha de onde se atirava, é inconfundível porque literalmente a jogada havia 'raspado' todo o jogo. Tinha crianças da minha turma que ganhavam tantas carteiras nos jogos, que tinham dificuldades em segurar o bolo delas amontoado dentro de sua mãozinha pequena.
   Quem não lembra do som do baleiro do armazém quando era girado para se chegar nas balinhas escolhidas? Aquilo era uma sinfonia para nossos ouvidos, que com um minguado troquinho corríamos até lá para comprar meia dúzia de balinhas. E muitas vezes era uma de cada compartimento. E o balconista, ao girar a tampa do compartimento completava a sinfonia. Eram tampas de alumínio azuis, que a cada girada ecoavam uma melodia de apetitoso e doce sabor.
   E a abrida de uma tampinha em garrafa de refrigerante? Que delícia de som! Quando criança esta melodia era muito poucas vezes ensaiada. Somente em eventos especiais, ou quando uma visita importante frequentava nossa casa. E o tssc seguido da tampinha caindo sobre a mesa é como um código secreto que se implantou em minha imaginação, onde consigo decifrar momentos de intensa satisfação, pois era a condensação de um momento único e raro.
   Hoje em dia os sons mudaram. A maioria deles são eletrônicos, de jogos, celulares, TVs e computadores. Mas certamente também farão a trilha sonora da infância das crianças que agora estão vivendo esta etapa de vida. E estas mesmas crianças quando adultas, lembrarão destes sons que transformaram momentos de sua infância em tempos doces e gostosos de sentir, deixando-os lá no fundo do pensamento, como cargas de prazer ao relembrar.
   

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