quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Hora da Faxina - Telinhas




 Telinhas

   É bastante comum para nós que somos de gerações passadas fazermos parâmetros com a infância e adolescência de hoje, falando de erros e atitudes praticados hoje em dia. Está certo de que a educação vai se modificando ao longo das décadas e novos processos acabam sendo agregados para a evolução cada vez mais avançada de nossos filhos e netos.
   Hoje em dia o que muito se fala é da imensidade tecnológica interagindo com nossas crianças, de onde muitos vislumbram seres alienados e dependentes dela para sobreviverem quando adultos. Talvez possa até ser. É incrível ver quanto um smartfone consegue prender a atenção dos jovens, a ponto de atravessarem uma rua sem olharem para nenhum lado, absortos na telinha do aparelho. Então, a observação sobre o quanto eles dependem dele.
   Mas, pessoas de minha geração, não esqueçamos que nós nascemos na época em que surgiu a TV no Brasil. Ou, melhor, em que ela se disseminou. Eu tinha dez anos quando entrou o primeiro aparelho em preto e branco em minha casa. E a partir dali, fim da década de sessenta, os televisores se disseminaram vertiginosamente. Na época se falava a mesma coisa: de que nós, crianças da geração da TV, ficaríamos reféns de seu conteúdo, alienados em sua programação e que nos tornaríamos adultos vazios e fúteis por perdermos tanto tempo em frente à telinha. 
   No fim da década de setenta vieram os primeiros video games. Nossa, aquilo foi uma revolução. Primeiro, do jogo arcaico de ping pong com aquele quadradinho branco repicando nos cantos da tela cinza amparado por duas barrinhas brancas (os jogadores), evoluiu para o Atari, que oferecia jogos coloridos. Simples mas que prendiam a atenção. E mais uma vez veio à tona o assunto sobre alienação eletrônica dos que eram adolescentes  e crianças dos anos oitenta e que perdiam horas jogando os games, tentando atravessar as fases.
   No fim dos anos oitenta se popularizou o computador. Aquilo sim era a perdição de qualquer criança. Um fascínio para todas as idades, pois permitia interagir com a tela e criar coisas nela. Fantástico. Apesar da telinha de dez polegadas em fósforo verde para não cansar os olhos, a máquina se disseminou numa velocidade vertiginosa. E no fim dos anos noventa uma grande quantidade de residências já possuíam um computador, depois de sair do complicado DOS e entrar no charmoso e interativo Windows. Pronto, mais uma vez se dizia que esta geração se transformaria num mundo de adultos dependentes da tecnologia e que para eles o simples ato de cozinhar só seria possível mediante ajuda do computador.
   E mais uma vez se comprovou que a tecnologia, ao invés de ser prejudicial é benéfica e não faz com que as pessoas evoluam como seres humanos. Por um simples fator: as máquinas não têm sentimentos. Por mais que se queira criar isto nelas, o sentimento não é eletrônico e sim, químico, pois envolve olhares, sensações, cheiros, calor humano e principalmente companhia física. 
   Eu acredito que até na atual situação, com tanta interatividade em redes sociais onde pessoas desconhecidas acabam se tornando amigas, onde vários encontros são virtuais para depois, caso haja interesse mútuo se torne um encontro físico, pode haver relacionamentos muito mais consistentes e harmoniosos do que os tradicionais encontros em bailes já que em tantas conversas ambos tiveram a oportunidade de mapear o perfil e sentir o que realmente estas pessoas são.

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