sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Hora da Faxinha - Rosicleide



   Rosicleide

   Rosicleide é uma trintona, daquelas que chamam a atenção de longe. Ela é espalhafatosa, caminha chacoalhando todo o corpo e mesmo sem falar, parece estar sempre gesticulando. Imagina só sua eletricidade nos braços e mãos quando está falando! É algo teatral. Ela tem os cotovelos um pouco desviados para dentro, então está sempre de braços semiabertos. Seu porte físico é do tipo de mulher espraiada, que não dá bola para estética, muito menos para peso ou barriguinha. Adora caipirinha adoçada com coca cola e deixa muitos homens no chinelo quando o assunto é quanto aguenta beber sem cair.
   Seu nome veio da junção do nome dos pais. Ele era Rosimar e ela Anacleide. Há uns anos era charme juntar o nome do pai e da mãe para compor o nome do filho colocando parte do nome da mãe e depois do pai, e no caso de filha, invertiam, e deu neste nome bem anos oitenta, Rosicleide. Fosse rapaz, certamente teria sido batizado de Cleidemar. Junções interessantes que formavam nomes exóticos. Conheço os irmãos Dilcesleu e a Elisdilce, ainda a Elisléia, que são filhos de Eliseu e Dilceléia. E por aí vai, de formas originais, impossíveis de repetir o nome.
   Mas, Rosicleide havia saído de um casamento mal realizado, onde tudo o que de bom que ela trouxe consigo foi a filha, a Ystefany. Sim, assim mesmo, afinal, sem ipselone no nome não parece chique. Ela ficou juntada com o repositor de estoque de uma loja de eletrodomésticos, o qual a tratava como se fosse um deles. Nunca deu um carinho ou um buquê de flores para ela. Só dor de cabeça. A vida dela era um inferno, até que um certo dia, resolveu dar um basta nesta vida de mercadoria e lhe deu o fora.
   O cara começou a chorar feito criança, vindo a ajoelhar no chão na frente dela. Nunca tinha demonstrado este tipo de sentimento, nunca havia chorado, muito menos mostrado sofrimento por algo que o incomodasse. Mas o fora de Rosicleide o deixou nocauteado. A cena, apesar de bem tensa ficou muito engraçada, porque na hora de seu lamento, ajoelhado mesmo, ele pegou do bolso um cartão de visitas que havia recebido de uma cliente da loja onde trabalhava, que era florista e estava oferecendo seus serviços. Tirou seu celular do outro bolso, e pingando lágrimas sobre o aparelho discou o número que tinha no cartão. Rosicleide esta atônita, sem entender nada daquela cena. A ligação se completou e ele chorando, soluçando, falou:
   - Alô! É da floricultura Flor de Conquista? ...Eu quero um buquê de flores agora mesmo aqui em casa. ... Não muito caro porque não recebi meu pagamento ainda.
   O choro rolava solto, Rosicleide de alma cortada, até com pena do que estava acontecendo, mesmo assim ficou irredutível, esperando o desfecho da ligação. O rapaz, após ouvir o que a florista falou, aumentou a intensidade do choro, dizendo:
   - Tudo isto??? Eu só tenho dez reais, mas preciso dar um buquê de flores para minha mulher! Senão ela separa, será que você não entende? 
   - ...
   - Então tá. Vou culpar você pela minha separação!
   - Desligou o telefone e continuando como o choro disse:
   - Eles não tem buquês de dez reais, disseram que dava só duas rosas. Quem sabe, Rosicleide, espera até o próximo pagamento antes de separar, pra ver que eu sei dar flores também.
   Então Rosicleide respondeu:
   - Nem que me desse a floricultura inteira eu voltaria atrás.
   E ele, parando o choro falou desdenhando:
   - Consumista! 

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