segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Uma ano e dois meses sem Bere, Viúvo



Um ano e dois meses sem Bere, viúvo.


   Hoje fazem catorze meses que Bere foi levada de mim para outro plano. Talvez muitos que passem pela mesma situação já, depois de tanto tempo, estejam aptos a entrar numa nova era, refazer suas vidas, sua rotina, seu mundo, enfim, redefinir seus dias em outro patamar. Que bom! Quisera isso fosse comigo também. Mas não é, não consigo. A rotina em si se refêz e consigo conciliar minhas tarefas normalmente. Mas, ainda estou muito ligado a ela emocionalmente e isto me gera limitações. Nosso amor incondicional que em vida não mediu esforços, nos mantém ligados.
   Bere e eu éramos um todo, uma simbiose difícil de explicar. Algo como o tempero certo no prato certo na medida certa. Quando ela partiu, eu não perdi minha cara metade, mas, perdi metade de mim. O que é bem diferente. Metade de mim é como deixar metade do meu ser inerte, sem conseguir mais reagir, comprometendo meu resto. E foi deste jeito que me senti durante ao menos os 4 primeiros meses após sua partida, até aos poucos, na medida do possível me sentir de novo como um todo. Nada mais interessava: se tivesse ou não mil reais, paciência, era um troco que não fazia falta. Se a comida era saudável ou não, que diferença fazia? Afinal, uma morte besta sem aviso prévio ceifou ela apesar de todos os cuidados que mantinha com sua alimentação e sua saúde. Compromissos? Só os realmente imprescindíveis. Festas? Somente para fazer a participação social, pois sem Bere, qual seria o sabor da festa? De água. Somente isso, insossa, inodora, incolor. Então, já por diversas vezes alguns disseram: "Mas na festa pode encontrar alguém especial, que pode fazer a diferença, quem sabe, mexer com teus sentimentos, algo novo!" - Lógico, pode fazer a diferença: e eu me sentir não a vontade pelo assédio, como já aconteceu, e sair antes da festa por me achar completamente deslocado no contexto. E, que pena, a mulher maravilhosa, coitada, de conversa bacana, lindo olhar, doce companhia, ficar ali, achando que tinha me feito mal. O mal é que tudo para mim, apesar dos quatorze meses ainda está recente. Um ano e dois meses é pouco. Ainda me sinto traindo Bere. Não dá pra explicar, mas em meu íntimo sinto isto. E isto me machuca pois jamais pensaria em sequer trair Bere em pensamento, quem dirá em ação.
  Bere e eu nos amávamos tanto que eu me tornei dependente dela e ela se tornou minha dependente. Não fazíamos mais nada sem a anuência do outro. Uma soma de situações que mostravam que amar é acima de tudo, colocar lado a lado divergências para se tornarem simbioses que acabavam sendo somas. E eu, melhor nós, nos amamos demais. Bere era o tipo de pessoa que só de seu olhar já se extraia amor. Imagina comigo, que fui sua grande e única paixão, o quanto de amor em seu olhar ela mostrava, e o quanto de amor vivemos! São marcas indeléveis, que ficam guardadas, mas que vez ou outra afloram à revelia. E bate a saudade. E choro. Lembrar acontecimentos de um amor maior é muito mais doído do que lembrar a rotina que vivemos. Por isso a emoção tão forte. E não existe um 'apagador de sentimentos', um 'feeling cleaner.' Existe a depuração lenta, que o tempo e a distância se encarregam em fazer, para deixar de sermos tão ligados. O processo é lento. Mas estou nele e tenho certeza de que um dia voltarei a olhar mais para fora do meu mundo do que para dentro dele, deixando a presença de Bere como uma memória gostosa de sentir, pois ela só me fez bem, ela só somou. E, quem sabe, vou voltar a gostar de festas e de seus assédios inevitáveis.
   

Nenhum comentário:

Postar um comentário