quarta-feira, 26 de maio de 2010

Crônica de Arnaldo Jabor - Gaúchos

Gostei desta crônica.
E não é demagogia,

gaúcho é assim mesmo!
Pio Rambo

GAÚCHOS
- Arnaldo Jabor -

Pois é.
O Brasil tem milhões de brasileiros que gastam sua energia
distribuindo ressentimentos passivos.
Olham o escândalo na televisão e exclamam 'que horror'.

Sabem do roubo do político e falam 'que vergonha'.
Vêem a fila de aposentados ao sol e comentam 'que absurdo'.

Assistem a uma quase pornografia no programa dominical de televisão e
dizem 'que baixaria'.

Assustam-se com os ataques dos criminosos e choram 'que medo'. E
pronto! Pois acho que precisamos de uma transição 'neste país'.Do
ressentimento passivo à participação ativa'.

Pois recentemente estive em Porto Alegre, onde pude apreciar atitudes
com as quais não estou acostumado, paulista/paulistano que sou.

Um regionalismo que simplesmente não existe na São Paulo que, sendo de
todos, não é de ninguém. No Rio Grande do Sul, palestrando num evento
do Sindirádio, uma surpresa.
Abriram com o Hino Nacional.

Todos em pé, cantando.
Em seguida, o apresentador anunciou o Hino do Estado do Rio Grande do Sul.
Fiquei curioso. Como seria o hino?

Começa a tocar e, para minha surpresa, todo mundo cantando a letra!

'Como a aurora precursora / do farol da divindade, / foi o vinte de
setembro / o precursor da liberdade '. Em seguida um casal, sentado do
meu lado, prepara um chimarrão.
Com garrafa de água quente e tudo.
E oferece aos que estão em volta.

Durante o evento, a cuia passa de mão em mão, até para mim eles oferecem.
E eu fico pasmo. Todos colocando a boca na bomba, mesmo pessoas que
não se conhecem. Aquilo cria um espírito de comunidade ao qual eu,
paulista, não estou acostumado.

Desde que saí de Bauru, nos anos setenta, não sei mais o que é 'comunidade'.
Fiquei imaginando quem é que sabe cantar o hino de São Paulo.

Aliás, você sabia que São Paulo tem hino? Pois é...
Foi então que me deu um estalo.
Sabe como é que os 'ressentimentos passivos' se transformarão em
participação ativa?

De onde virá o grito de 'basta' contra os escândalos, a corrupção e o
deboche que tomaram conta do Brasil?
De São Paulo é que não será.

Esse grito exige consciência coletiva, algo que há muito não existe em
São Paulo.
Os paulistas perderam a capacidade de mobilização. Não têm mais
interesse por sair às ruas contra a corrupção.

São Paulo é um grande campo de refugiados, sem personalidade, sem
cultura própria, sem 'liga'.
Cada um por si e o todo que se dane.
E isso é até compreensível numa cidade com 12 milhões de habitantes.

Penso que o grito - se vier - só poderá partir das comunidades que
ainda têm essa 'liga'. A mesma que eu vi em Porto Alegre.

Algo me diz que mais uma vez os gaúchos é que levantarão a bandeira.
Que buscarão em suas raízes a indignação que não se encontra mais em
São Paulo.

Que venham, pois. Com orgulho me juntarei a eles.
De minha parte, eu acrescentaria, ainda:

'...Sirvam nossas façanhas, de modelo a toda terra...'

Arnaldo Jabor



3 comentários:

  1. Muito show este comentário.
    Vejam a resposta a este comentário que recebi por email:

    Fábio Montenegro

    para mim

    Pio Rambo,
    Boa Noite.

    Sobre a matéria http://piorambo.blogspot.com.br/2010/05/cronica-de-arnaldo-jabor-gauchos.html?m=1


    Lendo Jabor faço minhas as palavras dele.

    Fico me perguntando quais os motivos que me fizeram identificar tanto com o Rio Grande.
    Sou de Recife, e gosto de repetir, quando estou no Rio Grande, que sou bem nascido: numa terra de identidade cultural própria, rica em danças e música e tantos outros predicados, mas tudo isso não me basta.

    Ainda busco os reais motivos deste apego avassalador ao extremo sul do país.
    Provavelmente me identifiquei com a maneira correta de ser cultuada, honestidade, decência, amor à família, ao trabalho e não só sentimentos: atos.
    Fico à vontade para adotar o Estado, como se meu fosse. Antes de mim chegaram os alemães, italianos, lusos e tantos outros. Só cheguei um pouquinho depois ...

    Entendo que a próxima revolução neste país nascerá em solo gaúcho. Será uma revolução contra a corrupção na administração pública. O gaúcho que tem fama de defender o que lhe pertence, dentre elas liberdade, fronteiras e patrimônio, por exemplo, se levantará envergando a cidadania, fiscalizará licitações públicas, preços pagos por serviços e mercadorias, tudo com o fito de ver voltar em serviços o dinheiro dos impostos.

    Parabenizo-o por toda a sua movimentação digital: sites, blogs, atividades culturais e todo o mais.

    Espero ter oportunidade de conhecê-lo numa das minhas "andanças" pelo Vale do Caí.

    Um abraço e Êxito!

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